CONHEÇA OS DESENVOLVEDORES

Construindo playgrounds criativos

Como os desenvolvedores da Toca Life criam seus mundos fantásticos.

Criar mundos virtuais para crianças pode ser difícil, mas não para o Toca Boca. Em apenas três anos, a sua franquia Toca Life lançou oito incríveis apps no estilo sandbox (mundo aberto), que abordam uma variedade de temas, desde uma escola até uma movimentada fazenda.

Para entender como são criados esses playgrounds mágicos e também como eles são capazes de tratar de assuntos delicados, conversamos com Petter Karlsson, um dos designers da série.

Desde 2011, o Toca Boca já lançou mais de 30 apps e outros mais estão a caminho

No começo, qual era o objetivo dos jogos Toca Life?

A ideia original era que as crianças brincassem com personagens diferentes, embarcando em outras aventuras. Mas acabamos descobrindo que elas gostam de brincar com o próprio cotidiano. Por isso, demos a elas uma maneira de criar as histórias que quisessem, seja sobre tomar café da manhã, ir para a escola ou até sobre o amor.

Quando vocês criam um cenário, como sabem o que colocar nele? Existe algo curioso que não pode faltar?

Sempre pensamos no que é relevante ao tema e ao contexto. As crianças criam vozes para os personagens e dão significado para cada objeto – algo trivial como um pote de café pode ter um grande papel. Se criamos uma casa, temos que ter luzes e janelas para que você possa alternar entre o dia e a noite. Além disso, crianças gostam muito de jogar coisas fora – seja para organizar ou porque é divertido, principalmente quando elas descartam algo que não deveriam, e depois acabam criando uma história em cima disso.

Para os desenvolvedores, o avião e a praia de Toca Life: Vacation são cenários com que muitas crianças podem se identificar

Vamos falar sobre apps específicos. Com o Toca Life: School, o objetivo era fazer da escola um lugar divertido?

Com certeza. Como sempre, a ideia tem a ver com dar controle às crianças, especialmente em um ambiente onde, mais do que na própria casa, sempre há um adulto decidindo as regras Aqui elas podem ser o professor e se divertir fazendo coisas que, teoricamente, não deveriam. Além disso, a escola é muito interessante no sentido aspiracional, é um ótimo contexto para as crianças experimentarem e criarem histórias.

O que acontece quando as crianças dominam a sala de aula? Dê para elas o Toca Life: School e descubra

Do berçário às máquinas de raio‑x, Toca Life: Hospital é muito bem feito. Tem até uma sala de despedida. Como vocês resolveram lidar com um assunto tão delicado como a morte?

O hospital faz parte da vida de muitas crianças, do nascimento ao dia de vacinação, e até mesmo na chegada de um novo irmãozinho ou irmãzinha. É para lá que as crianças vão quando estão machucadas ou doentes. Então pensamos: não seria incrível poder cobrir todos os aspectos da vida, incluindo a morte, e garantir que fosse possível dizer adeus para quem amamos, especialmente no caso de crianças que perderam alguém?

A gente podia matar personagens, transformá‑los em fantasmas, passamos por todas essas ideias, e acabamos decidindo fazer com que eles simplesmente dormissem, mas sem roncar, como fariam em outros lugares. Criamos um quarto simples e minimalista, onde você pode vestir uma roupa bonita e acender velas, nada aterrorizante. Como em todos os cenários, tudo depende da criança. Algumas querem brincar sobre a perda de alguém, e tentamos fazer isso de uma maneira com que as outras não ficassem assustadas.

Dar às crianças um lugar onde elas pudessem se despedir foi o objetivo desse quarto especial em Toca Life: Hospital

Toca Life: Stable se aprofunda em um assunto bem específico: cavalos. Vocês gostaram de focar neste tema?

Sim. Para mim, foi muito legal debruçar sobre algo que fez parte da vida da minha mãe. Por ela e pelas crianças que começam a ajudar nas tarefas domésticas do estábulo aos seis anos, a gente sabia que tinha que acertar a mão, para que o jogo não ficasse com cara de rotina. Para os amantes de cavalos, o momento de cuidar dos animais é muito importante, por isso temos escovas e equipamentos especiais, e tentamos incluir todos os tipos de roupas e selas, além de mostrar diferentes tipos de montaria. Aprofundar-se assim foi necessário para fazer justiça ao tema, e o resultado foi muito divertido. Quando você testa o jogo com as crianças e elas reconhecem alguns objetos, você sabe que o objetivo foi alcançado.


Das faixas de prêmio às selas, todos os detalhes em Toca Life: Stable tinham que ser perfeitos

Em geral, como os testes com crianças ajudam vocês?

Você pode achar que uma ideia funciona, mas você não tem como saber até testá-la com crianças. Foi o caso do laboratório secreto no porão de Toca Life: Hospital. Eu tinha que confirmar se as crianças iriam de fato tocar na máquina que você usa para acessar aquele ambiente. Com a máquina de comidas em Toca Life: Farm, tivemos que fazer vários testes para que ela se tornasse compreensível.

Às vezes você nem imagina do que as crianças vão achar graça. Eu coloquei um elevador no hotel de Toca Life: Vacation porque achei que seria interessante brincar com ele, mas só durante os testes descobri que as crianças achavam engraçado lotar o elevador. Trabalhar com crianças e descobrir do que elas gostam traz muita alegria ao que faço.

Sessões de testes com crianças (como essa no escritório do Toca Boca em Estocolmo) ajudam os criadores a enxergar através dos olhos delas

Qual a sua parte favorita de fazer esses jogos?

É piegas, mas meus olhos enchem de lágrimas respondendo isso. É ver a alegria das crianças, seja durante os testes ou ouvindo as suas impressões. É saber que o que fazemos tem importância. Sinto que podemos fazer algo que seja divertido e relevante para as crianças, para que elas possam criar suas próprias histórias e brincar do jeito que quiserem. É uma profissão como outra qualquer: você trabalha no escritório, lida com outras pessoas, e às vezes isso é difícil. Você aprende e tenta se aprimorar naquilo que não domina. Estamos constantemente tentando melhorar o trabalho em equipe, como lidamos com feedbacks, como fazemos os testes com crianças e como criamos os apps.

Outra coisa da qual me orgulho é de como nos empenhamos para trabalhar a questão da diversidade. Não queremos que nenhuma criança se sinta excluída nos produtos do Toca Boca. Queremos que elas se sintam incluídas, para que possam enxergar a si mesmas e as suas famílias nesses mundos.

Sempre nos dedicamos à qualidade. Mas acho que valorizar o ponto de vista das crianças e a ideia de que nenhuma delas deve se sentir excluída são os pilares dessa qualidade.