É complicado

Shahzad Younas, cofundador e CEO do Muzmatch, conhece bem os desafios que os jovens muçulmanos enfrentam para namorar no mundo moderno. Muitas vezes, ele explica, o único jeito de conhecer alguém é ser apresentado em constrangedores eventos de família.

“É um grande problema social”, diz. “Eu sou muçulmano e entendo a cultura, mas todo mundo que eu conheço faz um grande esforço para conhecer alguém".

Foi pensando nisso que Younas, formado em ciência da computação, largou a carreira no setor financeiro e se uniu ao engenheiro Ryan Brodie para criar um app de relacionamento para muçulmanos – um que pudesse, ao mesmo tempo, respeitar e romper com séculos de tradições.

“Pude compreender o tamanho do problema, não só no ocidente, onde a concentração de muçulmanos é baixa, mas também em países muçulmanos”, diz Brodie, CTO do app.

Talvez a função que mais diferencie o Muzmatch de outros apps de relacionamento é o foco na privacidade e no respeito.

“No Islã, existe a noção de que as mulheres devem ter mais proteção quando conversam com os homens – um guardião”, explica Younas. É por isso que o app permite que qualquer usuário, homem ou mulher, tenha um acompanhante – uma terceira pessoa que recebe uma cópia de todas as mensagens que um perfil envia ou recebe. “A ideia é estimular o bom comportamento. É simples assim”, explica.

Quem que já se sentiu desconfortável com fotos inapropriadas ou abordagens grosseiras em apps de relacionamento vai gostar de saber que isso é totalmente proibido em Muzmatch.

“Temos tolerância zero. Se uma pessoa está se comportando de modo vulgar ou obsceno, e claramente sem interesse em algo sério, nós a removemos do app”, diz Younas. Ofensores são bloqueados pelo número do celular e não podem se inscrever novamente.

O app também incentiva uma relação cordial quando membros decidem se afastar um do outro. Muzmatch pergunta a ambos se a outra pessoa foi respeitosa e bem‑intencionada. Quem for, recebe um selo no perfil e se posiciona melhor no algoritmo de busca.

Younas sabia que apenas copiar um serviço de relacionamento ocidental não daria certo, ele deveria levar em conta as bases da fé e da cultura muçulmana.

A maioria dos apps de relacionamento limita seus potenciais pares a poucos quilômetros de distância. Mas os membros de Muzmatch têm outras demandas.

“Uma das maiores diferenças culturais é o fato de que as pessoas buscam casamentos, e estão dispostas a viajar para isso”, diz. Quando Muzmatch foi lançado, a distância máxima era de 400 quilômetros, mas os usuários pediram um limite maior, de 3.200 quilômetros.

“As pessoas também queriam poder filtrar por país, ou escolher países diferentes, porque tinham vínculos com as regiões de origem,” diz Younas.

Famílias são complicadas, não importa de onde você é. Ainda que no passado os jovens muçulmanos tenham se contentado em deixar que suas famílias escolhessem seus pares, Younas percebe uma ruptura nessa tradição.

“Há uma nova geração mais disposta a buscar o próprio parceiro, mas eles também querem incluir a família nesse processo. Estamos ajudando essa nova geração a navegar por essas mudanças, enquanto mantém o respeito pelas tradições”, explica Younas. “A gente acredita que as duas coisas podem coexistir”.

Younas observa que muitas pessoas encontram alguém pelo app e logo depois envolvem a família. Ele diz que esse processo pode economizar muito dinheiro, já que muitas famílias recorrem a casamenteiros caros e bem relacionados para conseguirem indicações.

Ele destaca que Muzmatch, ao contrário dos casamenteiros, consegue unir pessoas com opiniões, etnia e posicionamento religioso bem diversos. “Queremos ser uma voz progressista e positiva dentro da fé muçulmana”, diz.

Younas se diz muito satisfeito com o principal motivo que faz as pessoas abandonarem o app: elas acham alguém especial.

“O mais importante é que Muzmatch une duas pessoas, e, consequentemente, duas famílias”, diz. “Qualquer coisa nesse mundo que seja capaz disso não pode ser considerada ruim”.

Muzz: Muslim Dating & Friends

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